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  • Foto do escritorJana Rambow

O PATRIARCADO E AS GUERRAS

Como o sistema patriarcal influencia o pensamento de guerra?


As guerras acontecem por diversos motivos: conflitos políticos e ideológicos, transformações geopolíticas, crises econômicas, fatores étnico raciais, disputas de território... uma guerra nunca pode ser explicada de maneira superficial. Para falar sobre uma determinada guerra é necessário que façamos um estudo profundo de seu contexto, é necessário que busquemos, principalmente, diferentes perspectivas.


Aqui, não estou tentando explicar uma guerra específica, e muito menos tratar a todas de maneira genérica – o intuito é refletir sobre como sistemas patriarcais acabam por fomentar guerras, e sobre como o fator gênero está, sem dúvida alguma, entrelaçado na história das guerras.


Para isso, voltemos nossos olhares aos papéis sociais, e o que eles exigem dos homens: Honra, virilidade, macheza, força, coragem. Estas mesmas características servem como instrumentos de dominação numa sociedade patriarcal.


Ao longo de milênios, homens tem de se provar, se reafirmar dentro de um conceito de masculinidade violenta. O poder conquistado pelos homens que controlam a sociedade se deu, em grande parte, através do uso da força. E para a maior parte do mundo, foi assim que foram construídas e destruídas muitas das linhas territoriais do globo.


É por isso, também, que a história das guerras foi sempre contata sob o ponto de vista masculino, cujos heróis, de líderes à soldados e generais, são lembrados e homenageados, enquanto ignora-se que muitas mulheres tenham enfrentado antes mesmo da guerra, a batalha pelo protagonismo. Como exemplo, em “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher”, Svetlana Aleksiévitch conta que mais de um milhão de mulheres lutaram no Exército Vermelho combatendo as tropas nazistas de Hitler – e esta história é raramente contada.


Mas, quando participam ativamente das guerras, mulheres não partem do mesmo lugar que os homens. As histórias evidenciam muita violência de gênero, especialmente a sexual.


Mulheres em guerra se protegem das artimanhas dos papéis de gênero, do feminino atrelado à sensibilidade, à ternura e à objetificação, enquanto homens fazem uso destes papéis, tanto quanto fazem de armas.

Então, não foi a natureza quem designou aos homens a missão de criarem guerras. Isto não está em seu DNA. É preciso entender que eles não são mais propensos à guerra, são levados à guerra, dentre outros motivos, pelo sistema patriarcal.


Ainda dentro desta análise, é necessário pontuar o quanto o militarismo, visto como símbolo de bravura, coopta o sentimento dos homens em relação à eles mesmos e à coletividade. Para Cynthia Cockburn, “é olhando profundamente para a cultura que então percebemos uma estreita ligação entre o patriarcado e o militarismo, pois ambos têm um interesse na produção de um tipo particular de homem”.


A cultura de violência, pautada na virilidade, cria um interesse maior por armas, e assim, o patriarcado e o militarismo dão “insumos” um ao outro.


Por isso, falar sobre combate ao pensamento de guerra, é falar sobre despatriarcalização das masculinidades que são usadas para a guerra. Se posicionar de maneira antiguerra, é combater sistemas de opressão que se moldam e remoldam de acordo com as novas eras, pois para além de aspectos sociopolíticos, as opressões estruturantes das sociedades se alimentam de desigualdades que geram complexos conflitos.


Para pensar sociedades pacíficas, é preciso considerar a urgência da desconstrução dos papéis de gênero que fomentam disputas por poder através da violência.

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